Janeiro Roxo: transmissão, diagnóstico, tratamento e panorama nacional da hanseníase

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O mês de janeiro ganha a cor roxa para alertar a população sobre a hanseníase, doença infectocontagiosa que apresenta uma alta prevalência em nosso território. Em 2018, o Brasil foi responsável por mais de 90% dos casos da enfermidade no continente americano, com 27 mil registros, sendo o segundo país do mundo mais afetado por esse cenário – atrás, apenas, da Índia.

Ao contrário do que muitos pensam, a hanseníase não é transmitida pelo contato direto com a pele. A infecção pela Mycobacterium leprae, que tem o ser humano como hospedeiro natural, ocorre mediante o convívio prolongado com doentes que possuem alta carga bacteriana, através das vias aéreas (respiração).

“A bactéria que causa a hanseníase gosta dos nervos do corpo onde a temperatura é mais baixa. Após ser inalada, ela atinge, principalmente, os nervos da pele (em especial, as extremidades, como mãos, antebraços, orelhas e pernas). E, ao tentarem combatê-la, eles acabam se danificando. A consequência dessa infecção são manchas brancas na pele e a perda das sensibilidades térmica, dolorosa e tátil, que representam os principais sintomas da doença”, detalha o Dr. Guilherme de Oliveira Arruda (CRM 169.160), médico preceptor da disciplina de Dermatologia da Universidade São Francisco (USF).

Nas áreas onde há a inflamação dos nervos devido à atividade bacteriana, também pode ser comum haver a diminuição da transpiração e do número de pelos. “Caso a hanseníase não seja tratada neste estágio, pode evoluir para lesões maiores na pele e danos permanentes ao nervo, acarretando em perda de força ou deformidades”, completa.

Abaixo, Dr. Guilherme detalha as principais dúvidas sobre a hanseníase e suas principais medidas de prevenção.

Como é feito o diagnóstico da hanseníase?

O diagnóstico pode ser feito de diversas formas. Primeiramente, precisamos saber a história epidemiológica do paciente: se ele mora (ou morou) em área com alta prevalência de hanseníase ou se vive com alguém que foi tratado (ou que represente um caso suspeito). Posteriormente, realizamos o exame físico e os testes de sensibilidade na pele.

Há outros exames utilizados neste contexto, como a baciloscopia (retirada de pequena quantidade de secreção dos lóbulos das orelhas, dos cotovelos e dos joelhos para a visualização da bactéria), biópsia de pele e eletroneuromiografia (para avaliar a integridade do nervo). Cabe ressaltar que também podem ser utilizadas técnicas de biologia molecular, como o PCR, que consegue amplificar e identificar o DNA da bactéria.

De que forma o tratamento da hanseníase é realizado?

Após o diagnóstico, o paciente fará uso dos medicamentos, que são fornecidos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento consiste em doses diárias autoadministradas em casa e doses mensais supervisionadas nos postos de saúde. Ele é altamente eficaz e tem a duração de 6 meses – há dados indicando que 90% das bactérias são mortas já nos primeiros 7 dias de tratamento.

Como podemos evitar a infecção pela bactéria causadora da hanseníase?

A prevenção ocorre quando quebramos a transmissão e consiste no tripé vacinação (BCG) – diagnóstico precoce – tratamento.

A BCG é uma vacina que tomamos nos primeiros dias de nascimento e serve para nos prevenir de formas graves de tuberculose (a bactéria que causa a hanseníase é da “mesma família”, o que causa uma reação cruzada de prevenção).

Portanto, é fundamental vacinar os contactantes domiciliares de pacientes com formas graves (multibacilares) de hanseníase assim que o diagnóstico for realizado

Nossa Associação e o acolhimento à hanseníase

A Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus (ALSF), entidade mantenedora do Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus, gere mais de 70 obras que levam saúde e acolhimento a milhares de pessoas pelo Brasil e pelo mundo. Uma delas, a Humanitas Brasil, localizada em São Jerônimo da Serra-PR, é dedicada a cuidar dos pacientes acometidos pela hanseníase.

A doença, antigamente designada como “lepra”, representava uma sentença de morte na época de Jesus Cristo. E, além dos males físicos citados nesta matéria, os pacientes acometidos por tal bactéria eram vítimas de preconceito e exclusão, vivendo à margem da sociedade.

O notável gesto de amor protagonizado por São Francisco de Assis ao abraçar um “leproso” naquele contexto de violência moral e física praticado pela sociedade foi uma das grandes inspirações de Frei Francisco Belotti, presidente nato da ALSF, que iniciou sua jornada a serviço da vida cuidando de dependentes químicos na pequena cidade de Jaci-SP.

O sonho do humilde franciscano, hoje, permite que milhares de pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) recebam um tratamento médico humanizado e de excelência.

Conheça todas as obras geridas pela ALSF e saiba como nos ajudar a salvar vidas acessando o site franciscanosnaprovidencia.org.br.