O sono e a imunidade: os benefícios de uma noite plena de descanso

sono_e_a_imunidade_husf_braganca_paulista

Em época de pandemia global, as fake news e projeções sem embasamento científico a respeito do futuro da sociedade acabam por acentuar um problema comum na rotina de muitos brasileiros: os distúrbios relacionados ao sono. 

Todavia, o estresse do cotidiano não é o único fator que potencializa tais perturbações. Aspectos alimentares, fatores fisiológicos e o uso indiscriminado de celular antes de dormir também são práticas sono-inibidoras, que podem afetar diretamente a qualidade de vida e a imunidade do indivíduo. Portanto, devem ser consideradas com atenção neste contexto preventivo.

Médica otorrinolaringologista do Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus, Drª. Daniela Leme de Araújo (CRM 104.652) explica que, buscando o aumento na produtividade, a sociedade tem desenvolvido a tendência de dormir menos horas do que o ideal – e tal hábito é muito prejudicial ao organismo.

“Nós passamos 1/3 de nossas vidas dormindo, portanto, precisamos ter um sono de boa qualidade para o devido descanso. Entretanto, cada vez mais, as pessoas têm trazido trabalho para casa, permanecendo em constante conexão com a tecnologia e ficando mais tempo acordadas”, ressalta, antes de pontuar os malefícios ocasionados pelo respectivo contexto.

“Um sono de má qualidade traz muitas consequências negativas ao corpo humano, tais como: redução da imunidade; tendência ao ganho de peso; alteração de humor; déficit cognitivo e o risco de desenvolvimento de doenças como diabetes, hipertensão arterial, obesidade e depressão, além de contribuir para o aumento do índice de acidentes”.

Abaixo, Drª. Daniela Leme de Araújo detalha as principais doenças do sono, detalha os cuidados que devemos adotar para garantir o tempo adequado de descanso e projeta como o contexto de pandemia ocasionado pelo Novo Coronavírus (COVID-19) impacta no período de repouso do brasileiro.

Apneia do sono

É caracterizada pela interrupção do fluxo da respiração por 10 segundos ou mais durante o sono. As pausas podem acontecer repetidamente, fragmentando o sono, provocando despertares e a queda de oxigenação do sangue.

Os principais sintomas são: ronco, engasgos, boca seca e sonolência diurna excessiva.

Em crianças, as manifestações são diferentes: déficit de atenção, alteração na curva de crescimento, hiperatividade,  irritabilidade, dificuldade no aprendizado e até mesmo doenças cardíacas. Portanto, tal faixa etária merece uma atenção especial.

Insônia

Segundo a classificação internacional dos transtornos de sono, a insônia pode ser definida como a dificuldade para início, manutenção do sono ou despertar precoce, resultando em algum tipo de prejuízo diurno. Ela deve ocorrer pelo menos três dias por semana e durar no mínimo três meses para ter o diagnóstico confirmado.

Síndrome das pernas inquietas

Trata-se de um transtorno de movimento relacionado ao sono. A movimentação das pernas (principalmente associada à sensação desconfortável) deve começar no período de repouso ou inatividade e ocorre, predominantemente, ao entardecer ou à noite. Geralmente, são acompanhadas de sensações desagradáveis e podem ser aliviadas mediante movimentação ou alongamento. 

O diagnóstico é fechado quando o aparecimento das características acima mencionadas não é explicado por nenhum outro problema (como câimbras, edemas, artrite ou mialgia).

Sonambulismo

É a execução de comportamentos motores durante o sono (ato de sentar, levantar e deambular). Ocorre durante o sono de ondas lentas e, em geral, termina com o despertar (quando a pessoa não retorna ao leito).

O sonambulismo decorre de um transtorno de despertar prevalente na infância (acomete 1% a 17% das crianças), com pico entre 11 e 12 anos, mas pode persistir até a idade adulta, apresentando diferentes graus de complexidade e duração.

Dicas para uma melhor qualidade no sono

Antes de dormir…

• Evite o consumo de álcool, café e refrigerantes
• Evite pensar em preocupações
• Evite refeições pesadas
• Evite sedativos e hipnóticos (exceto quando houver orientação médica)
• Evite uso de celulares ou tecnologias similares (a melatonina, hormônio natural do sono, é diminuída pelo estímulo luminoso)
• Preze por um ambiente favorável para o descanso (quarto limpo, escuro e, se possível, sem a presença de animais de estimação)
• Preze por uma iluminação agradável (evitando lâmpadas brancas ou azuis)

Cuidados gerais

• Dirija-se à cama apenas para dormir (e, portanto, com sono)
• Mantenha o Índice de Massa Corporal no nível ideal
• Mantenha regularidade no horário de dormir e descansar
• Pratique exercícios físicos (porém, evitar realizá-los à noite)

O alerta sobre o Novo Coronavírus (COVID-19) e as noites de sono

“A expansão do Novo Coronavírus pelo mundo trouxe muito medo à população. E, infelizmente, as fake news contribuíram para instaurar um cenário de pânico. Assim, todos os transtornos relacionados ao sono tendem a piorar. Entretanto, é fundamental entender que um sono reparador é essencial para garantir a boa imunidade. De nada adianta o desespero que prejudica o nosso descanso, pois ele nos deixará vulnerável não apenas às doenças físicas, caso do COVID-19, mas também às mentais”.

Drª. Daniela Leme de Araújo (CRM 104.652) é médica otorrinolaringologista, com área de atuação em Medicina do Sono, e preceptora no serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus. É graduada em Medicina pela Universidade São Francisco (USF), onde também cumpriu o período de residência médica